Roger Machado assume o Grêmio sob uma enorme pressão. Tanto que foi a torcida que pediu a cabeça do ex-técnico Vagner Mancini e os dirigentes não negam que tiveram que tomar a decisão devido a forte ação externa. Internamente, também houve um pedido do presidente Romildo Bolzan Junior para que os homens do futebol liderados por Denis Abrahão renunciassem da ideia da continuidade do trabalho de Mancini e trouxessem um profissional que tivesse uma aceitação melhor da torcida. Até quando? O desafio será subir o Grêmio para a Série A, mas no caminho tem Gauchão e Copa do Brasil para dividir as atenções e concentrar as tensões.
Levar em conta o desejo do torcedor à risca abre um precedente de que se ele não gostar do trabalho de Roger poderá novamente gritar por mudanças. Ainda mais porque ele estará sempre trabalhando à sombra de uma estátua muito viva na Arena: Renato Portaluppi. Ainda mais depois de dar uma entrevista para a Rádio Gaúcha, onde disse que se tivesse continuado o Grêmio não teria sido rebaixado. Numa só declaração, Renato chamou por tabela todos os profissionais que o sucederam de incompetentes para deixar o Grêmio, no mínimo, na Série A. Acabou também atingindo em cheio o departamento de futebol e o próprio presidente que havia até chorado com a saída do ídolo maior de todos os gremistas. Não havia clima para que ele voltasse, embora sempre será o preferido da torcida.
Roger tem na bagagem um histórico como grande jogador do Grêmio. Ele é cria da base gremista, o berço dele no futebol é o Estádio Olímpico assim como Renato. Chegou aos 17 anos no clube e sabe bem o que é uma reestruturação de um clube que havia sido recém rebaixado para segunda divisão pela primeira vez em 1991. Havia um movimento de renovação liderado pelo técnico Luiz Felipe Scolari. Roger subiu para os profissionais em 1993, junto com outros expoentes da época como Danrlei, Carlos Miguel, Arílson. No ano seguinte, formariam a base do time campeão gaúcho e da Copa do Brasil de 1994. O quarteto defensivo tinha Arce, Rivarola, Adilson Batista e Roger e consquistou o bi estadual e ainda a Libertadores de 1995.
As conquistas de Roger não param por aí. Permaneceu no time campeão Brasileiro em 1996 e da Copa do Brasil de 1997, quando cruzou a bola para o gol de Carlos Miguel marcar o gol do empate contra o Flamengo que calou o Maracanã no jogo decisivo. Ainda conquistou a Recopa Sul-americana naquele ano, o Gauchão e a Copa Sul-americana de 1999. Depois, começou a ter uma série de lesões e passou a estudar futebol tendo como mentor Tite. O atual técnico da Seleção Brasileira incentivou Roger e foi ele que colocou o lateral na zaga ao lado de Mauro Galvão e Marinho num sistema 3-6-1, que levaria o Grêmio a conquista da Copa do Brasil de 2001 amassando o Corinthians por 3 a 1, no Morumbi. Chegou a ser convocado para a disputa da Copa América daquele ano.
Vendido pelo Grêmio, teve uma experiência de difícil adaptação no Vissel Kobe do Japão.
Foi quando começou a absorver conhecimento do técnico tchecoslovaco Ivan Hašek com estratégias de futebol coletivo, marcação por zona e outras habilidades que Roger iria aprimorar. Ainda houve tempo para jogar no Fluminense como zagueiro e ser campeão da Copa do Brasil em 2007, marcado o gol do título contra o Figueirense em Florianópolis. O técnico do Fluminense era Renato Portaluppi. Chegou a tentar uma experiência final no DC United de Washington dos Estados Unidos, mas uma lesão lombar o impediu de jogar no clube americano.
Roger começou a carreira como técnico sendo auxiliar de Caio JR, Renato e Vanderlei Luxemburgo no próprio Grêmio. Teve a oportunidade de assumir o time em três Grenais. Em 2011, assumiu o time B no clássico disputado em Rivera no Uruguai e venceu por 2 a 1. No ano seguinte, teve um resultado ainda melhor como interino antes de Luxemburgo assumir. Colocou o Grêmio na semifinal depois de vencer o Inter com titulares novamente por 2 a 1. Em 2013, o Grêmio se preparava para Libertadores e Roger treinou o time misto que perdeu por 2 a 1 para o Inter no Colosso da Lagoa em Erechim. Aquelas experiências deixaram uma ótima impressão. Mais uma vez, Roger aproveitou o período para se aprimorar.
Foi estudar na Europa. Esteve por 30 dias com direito a um estágio no Chievo, da Itália. Roger foi confirmado, em dezembro, como técnico do Novo Hamburgo para o Campeonato Gaúcho de 2015. O Nóia, que contava com o zagueiro Bolívar, o volante Magrão e os atacantes Luís Mário e Leandrão conseguiu se classificar às quartas de final do Estadual, mas acabou sendo eliminado pelo Grêmio e depois saiu.
O Técnico do Gre-Nal dos 5 a 0
A primeira experiência de Roger como técnico foi no Juventude. Foram 5 meses no ano de 2014. Foi eliminado pelo Grêmio no Gauchão e fazia boa campanha na Série C do Brasileiro. Após a parada da Copa do Mundo, o time teve duas derrotas e Roger saiu. Em 2015, foi para o Novo Hamburgo e acabou sendo eliminado pelo Grêmio no Gauchão e acabou saindo. Finalmente assumiu o Grêmio em 26 de maio de 2015. Ficou marcado como comandante do Grêmio no histórico Gre-Nal dos 5 a 0, disputado na Arena no dia dos Pais. Garantiu vaga para Libertadores de 2016 com o terceiro lugar no Brasileirão. O time escalado teve: Marcelo Grohe; Galhardo, Geromel, Erazo e Marcelo Oliveira; Edinho, Maicon, Giuliano, Douglas (Maxi Rodriguez) e Luan (Bobô); Pedro Rocha (Fernandinho). Gols de Luan (2), Giuliano, Fernandinho e Rever (contra).
Começa bem e termina mal
Em 2016, ainda no Grêmio
foi eliminado pelo Juventude nas semifinais do Gauchão. O time de Caxias venceu em Caxias por 2 a 0 e no jogo da volta marcou um gol qualificado. Com a vitória por 3 a 1, o Grêmio foi eliminado. No Brasileiro, após uma derrota por 3 a 0 para a Ponte Preta pediu demissão e saiu do tricolor gaúcho. Veio Renato que arrumou o time e ganhou Copa do Brasil em 2016, Libertadores em 2017 e Recopa Sul-Americana em 2018. Roger teve oportunidade de treinar o Atlético Mineiro em 2017. Ganhou o Mineiro e caiu no Brasileiro. Teve a melhor campanha da primeira fase da Libertadores, mas se atrapalhou perdendo o jogo de ida contra o Jorge Wilsttermann da Bolívia. Foi demitido após uma derrota para o Bahia por 2 a 0.
Assumiu o Palmeiras em 2018. Perdeu a final do Paulista para o Corinthians. Mesmo com a melhor campanha da primeira fase da Libertadores, classificado para as oitavas de final da Copa do Brasil e na sexta posição do brasileiro, foi demitido por mau desempenho da equipe na visão da diretoria. Voltou a trabalhar em 2019, no Bahia onde foi campeão baiano. Não resistiu a uma derrota para o Flamengo por 3 a 1 e mais uma vez perdeu o emprego. Foi para o Fluminense em
2021, quando acabou tendo mau desempenho no brasileiro e eliminado nas quartas de final para o Barcelona de Guayaquil. Acabou mais uma vez sendo desligado.
Gre-Nal, estreia da Copa do Brasil são os primeiros grandes desafios
Roger chega com tempo apertado. Todo trabalho de Mancini foi perdido porque os dois têm estilos diferentes. Precisa ainda se adaptar a política do clube de fazer mais com menos. Nada de contratações. Roger só acompanha o time no jogo contra o União Frederiquense, nesta quarta-feira (16/02) em Frederico Westphalen pelo Campeonato Gaúcho. Ele estreia mesmo contra o São Luiz na Arena no próximo sábado (19/02) e já tem dois jogos mais complicados na sequência. O primeiro é o Gre-Nal, no Beira-Rio no sábado de Carnaval, dia 26 de fevereiro. No dia 1º de março encara o Mirassol, em Mirassol, na estreia da Copa do Brasil. Um empate basta para se classificar.
Para fechar a primeira fase do Gauchão, tem mais dois jogos contra Novo Hamburgo (fora) dia 05/03 e Ypiranga (casa) dia 12/03. Tem pelo menos mais dois jogos semifinais pelo Gauchao dias 23 e 27 de março e, classificado, jogará as finais do Gauchão nos dias 30/03 e 03/04. Seriam seis jogos em sequência e a estreia na Série B em 9 de abril contra a Ponte Preta em Campinas. Se levar em contra que terá um primeiro treino para valer no dia 18/02 , serão 53 dias até a estreia no principal objetivo do ano. Para complicar, é bem provável que não possa contar com Ferreira e Benitez no Gre-Nal e quem sabe até mesmo contra o Mirassol. O Grêmio precisa pelo menos passar pelo Mirassol e chegar na final do Gauchão.
Claro que perder o título Gaúcho pode ser desgastante, ainda mais se for para o Inter. Mas se o time mostrar evolução e conseguir fazer um enfrentamento de igual para igual na decisão do Gauchão, a perda do título não vai abalar tanto como se imagina. Qualquer coisa menos do que isso, será terrível para o ambiente do Grêmio e de Roger. A presença de Paulo Paixão como coordenador técnico será fundamental para gerar confiança e ajudar Roger a controlar os ânimos internos. A Série B, será tensão pura até que o time consiga abrir uma boa vantagem no grupo dos quatro primeiros que sobem. A cada vacilo, a estátua do Renato estará ali na Arena para lembrar ele de que a torcida vai cobrar. E se ouviu para mandar Mancini, vai ouvir para mudar de novo. Ou até que ela mesmo vá para o buraco.