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Flamengo vive no planeta Gávea

Flamengo, de Gabigol, se vale de autorização do STJD para enfrentar o Grêmio, de Kannemman, em dois jogos no Maracanã com presença de torcida

O Flamengo vive num planeta isolado, como o histórico personagem Pequeno Príncipe do livro de Antoine de Saint-Exupéry. Mas em vez de ser um menino puro e sensível, o clube carioca apresenta uma face egoísta e arrogante como se valessem apenas seus interesses. A decisão de buscar através de uma liminar o direito poder mandar os jogos com público em três competições diferentes em seus domínios é antipática e imoral. O Flamengo não leva em conta a equidade dos seus pares de clubes brasileiros ou o princípio de isonomia, quando se vale de uma autorização do STJD para ter público em dois jogos contra o Grêmio, pela Copa do Brasil e pelo Brasileiro, e contra o Barcelona do Equador, pela Libertadores.

O vice-presidente e jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, declarou que a CBF não tem poder para decidir sobre a presença de público nos estádios. De que isso cabe aos municípios, as autoridades públicas e sanitárias. Ele não está errado. Mas não é isso que está em questão. O ponto é o desequilíbrio de uma sede para outra. Se numa cidade, o público pode estar liberado como no Rio, em outra pode não estar. Então, é preciso que os clubes e a organizadora da competição se reunam para buscar uma decisão conjunta.

Foi o que fizeram 19 clubes numa reunião com a CBF para tentar cassar a liminar do Flamengo e manter a Série A ainda sem público pelo menos até 2 de outubro ou enquanto não houver liberação em todas as cidades dos clubes. Haverá uma nova reunião em 28 de setembro. Ainda ameaçam paralisar a rodada em que o Flamengo colocar público nos jogos do Brasileirão, o que seria uma decisão arbitrária caso a justiça mantivesse a autorização, mesmo que a origem do erro seja do Flamengo.

Uma alegação do Flamengo é de que, quando convocam jogadores da Gávea para a Seleção, ninguém se importa com o clube carioca. A reclamação é antiga do vice-presidente Marcos Braz, em meio aos jogos da Copa América, embora o clube tenha ao menos conseguido impedir o atacante Pedro de jogar as Olimpíadas. A reclamação é válida, mas neste caso o desequilíbrio é porque o Flamengo tem ótimos jogadores. Os melhores jogadores de clubes são convocados desde antes de Pelé.

O foco desta discussão não é a convocação, mas o calendário. Agora mesmo, o Brasileirão parou e ninguém foi prejudicado. Esta é uma outra briga que não tem nada a ver com o público nos estádios. O Flamengo, no entanto, prefere comprar somente as suas brigas. Como vamos pensar numa liga para o futebol brasileiro, a união dos clubes para melhorar suas receitas e resultados financeiros?

Um dos clubes mais revoltados com a decisão do Flamengo é o Grêmio, que já jogou em casa a partida de ida pela Copa do Brasil sem público e no jogo da volta, no Maracanã, terá agora que jogar com público. Segundo Nestor Hein, vice-jurídico do Grêmio, a preocupação nem é uma vantagem técnica porque o Flamengo venceu o primeiro jogo por 4 a 0 e ele sabe que não há chance alguma do Grêmio se classificar, só matemática. A questão é exatamente a equidade que, inclusive, consta do regulamento da Copa do Brasil.

Só que o Flamengo desconsidera o regulamento. O que vale é a decisão da prefeitura do Rio e a autorização do STJD. O Grêmio ameaça não entrar em campo. Também erra não ao protestar mas porque deveria cumprir, o que está determinado pela justiça mesmo que seja uma decisão imoral, no mínimo indecente, do Flamengo. O futebol brasileiro não pode ser regido às vontades do planeta Gávea mesmo que seu time seja uma orquestra magnífica a qual aplaudimos em pé à frente da TV. Do contrário, o clube que foi eleito o mais querido do Brasil e tem a maior torcida, estará sendo coroado não como um príncipe isolado, mas como o rei da antipatia.

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