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Gringos e troianos


Será possível o futebol brasileiro agradar aos gringos e troianos? Explico. Esta expressão muito utilizada aqui no Brasil se refere a guerra de Tróia e na verdade é "Gregos e Troianos". O que importa é o significado quando se quer dizer que mesmo opostos, rivais ou diferentes podem estar em ambiente agradável. Os gringos são os técnicos estrangeiros que estão obtendo sucesso por aqui contra nós os troianos, que muitas vezes nos sentimos invadidos. Minha resposta, porém, é que sim podemos agradar a todos.

Esta mistura é benéfica para o nosso futebol. Não vou citar os gringos que deram errado, mas aqueles que funcionaram. O português Jorge Jesus no Flamengo que ganhou o brasileiro e o Libertadores pelo Flamengo e agora o Abel Ferreira pelo Palmeiras que ganhou o título da América pelo Palmeiras e ainda está na final da Copa do Brasil contra o Grêmio, após a disputa do Mundial de Clubes.

Os argentinos Jorge Sampaoli, no Santos e agora no Atlético Mineiro, e Eduardo Coudet, que esteve no Internacional, trouxeram marcação alta, jogo de pressão, intensidade, escalações inovadoras que mudam jogadores de função como poucos ousariam por aqui. Tanto que nem sempre se deram tão bem assim. Mas que agregaram ao nosso futebol, não há dúvidas.

A influência dos gringos por aqui não pode ser também uma febre ao ponto de tornar tudo que fazem melhor e assim menosprezar os grandes profissionais que temos aqui. O melhor exemplo disso é o técnico Abel Braga do Internacional. Que agora quebrou um recorde histórico de nove vitórias seguidas no brasileiro e está muito bem encaminhado para o título do brasileiro, coisa que não se esperava com tanta confiança na era Coudet.

Abel Braga e Vanderlei Luxemburgo também são diferentes dos jovens expoentes do Brasil. Mas precisam ser respeitados pelo que conhecem de futebol. Ambos também foram gringos em outros países. Luxemburgo no Real Madrid e Abelão no futebol português. Abel, inclusive, foi jogador do Paris Saint Germain quando Neymar nem existia. Diferente de treinadores como Odair Hellmann, Maurício Barbieri, que começam a se destacar, os mais antigos costumam escalar melhor os times pela técnica dos jogadores, descobrem logo novos talentos como Abel viu Caio Vidal, Praxedes, Yuri Alberto.

Os técnicos brasileiros da nova geração são mais táticos, apegados a números e sistemas de jogo, as teorias, menos a prática. O que os gringos têm de diferente é que eles conseguem muitas vezes reunir as duas características. Mas nunca é tarde para se reinventar por aqui. Abel Braga vive um momento magnífico porque escalou o Inter melhor que Coudet e soube utilizar a marcação alta que já estava treinada pelo Coudet quando precisou contra o São Paulo.

O que não pode é pensar na mística como da mitologia grega e apostar em santos, em rituais de superstição e até mesmo aquele tipo de malandragem que o Cuca, outro grande técnico, quis aplicar na final da Libertadores contra o Palmeiras. Foi fazer uma espécie de cama de gato no lateral Marcos Rocha. Acabou caindo do cavalo, expulso e vendo, da arquibancada do Maracanã, o Palmeiras de Abel Ferreira marcar o gol da vitória e comemorar o título da Libertadores. A bola pune como diria o mestre Muricy Ramalho.

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