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A Copa do Messi na maior final de todos os tempos: Argentina x França


Detalhes podem faltar na minha memória das copas que vi, mas o Mundial do Catar de 2022 teve a maior final que assisti. Um prêmio para quem ama futebol e viu um duelo tático, emocionante, e com dois gigantes da história frente a frente: Messi x Mbappé em 4k, Até lembro bem da abertura da Copa de 1974, na Alemanha, porque tinha um detalhe especial. Era nossa primeira TV em cores, daquelas com canal de botão giratório, uma Semp Toshiba. Mas muita coisa posso ter deixado no caminho, que acabei esquecendo ao longo do tempo. O que ficaram dos mundiais na minha infância e tempos do colégio e faculdade, eram as derrotas do Brasil e o nosso sofrimento. Acredito que todo brasileiro tem este mesmo sentimento, ainda agora, quando vivemos um novo jejum da Seleção. Vale mais concentrar a nossa energia no clube do coração, mesmo quando o nosso time não ganha. Até porque quem vai à Copa faz tempo que não joga nos clubes brasileiros. Neymar foi do Santos, Vini JR nem jogou no Flamengo e por aí vai.

Perdíamos todas as copas desde 1970, que não lembro porque tinha apenas 1 ano de idade. Passei a olhar o futebol diferente a partir de 1982, quando o Brasil espetacular de Telê Santana, Falcão, Sócrates e Zico, Junior e cia não ganhou. Era a chance. Foi eliminado pela Itália, em Sarriá, na Espanha. Eu ainda era apenas torcedor, nem pensava em ser jornalista, queria ser jogador e passei a ser admirador do futebol independente do resultado. Ainda mais depois de comprar uma bandeira antes de Brasil x França em 1986 e, de novo, sofrer uma eliminação. Chorei muito. Virei a chave, passei a torcer pelo futebol querendo que o Brasil sempre fosse o melhor, mas se não fosse, seria a favor daqueles que mais jogassem bola. Nascia ali o espírito do observador, do jornalista, do comentarista de futebol.

Na Copa de 1990, eu já estava na produção da cobertura da Rádio Gaúcha ainda como estudante de jornalismo. Ponta a ponta com a Itália, a derrota do Brasil já não era tão dolorida como antes. Caniggia e Maradona mereceram, não? Eu estava na minha primeira cobertura de Copa aos 21 anos admirando o futebol e os meus ídolos do rádio: Ranzolin, Haroldo de Souza, Ruy Carlos Ostermann e Lauro Quadros, a quem me espelhei para ser um cara de rádio, tv e jornal, um multimídia que me levaria a cobrir nos anos seguintes a grande jornada de Gustavo Kuerten no circuito Mundial de Tênis.

Passei a ter certeza de que não queria ser médico como meu pai e cheguei a pensar em ser. Não queria ser atleta porque não tinha talento nem aptidão física para isso. Eu me dei conta que me descolar da figura de torcedor era a porta de entrada para o jornalismo. Não importava mais o que eu vivia, não seria mais uma parte da história, mas um contador de histórias. Comecei a me conectar de uma forma diferente com o passado, a Copa de 1978, por exemplo. Gostava do meia Ardiles, que saiu do Huracán e jogou no Tottenham e PSG. E como não admirar a Alemanha de Beckenbauer, ou a Holanda de Cruyff, motivo de eu admirar o Ajax e o Barcelona. Minha conexão não tem mais torcida, mas personagens, outras cores, história e continentes. Ruben Paz, Hagi, Roger Milla, só para citar alguns.

Em 1994, eu já havia trocado a Zero Hora, onde fui repórter e setorista do Grêmio, pelo Diário Catarinense em Florianópolis. Foi durante um jogo Grêmio x Guarani no Scarpelli, numa perda de mando de campo que me apaixonei pela cidade, queria viver na praia e sair de casa. Comemoramos muito na redação a vitória do Brasil nos pênaltis. Foi a Copa do Romário. Mas não me animava tanto com aquele jogo coletivo. Já tinha aplaudido Maradona em 1986 e estava ainda refém da derrota do Brasil em 1982. Não pode um time como aquele não ganhar. Pode. É o futebol. Às vezes, ele é injusto.

A França de Platini nunca ganhou. Foi a do Zidane que venceu em 1998. De novo, contra o Brasil. Mas como não admirar tamanho jogador? Assim como Felipão abriu mão de Romário em 2002. Só que o Brasil tinha Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo, o Fenômeno. Não faltava motivos para comemorar. A esta altura, já era repórter da CBN e da RBS TV em Floripa. Conseguia contar histórias no rádio, na TV e no jornal como havia me programado. Fui assim de 2006 até 2014. Neste período, veio a Era Messi. Nada me encantou mais que este jogador, muito mais pelo Barcelona que pela Seleção. E foi a seleção espanhola em 2010 que jogou um futebol de toque de bola igual ao do Barça com Xavi, Iniesta contra os espetaculares Sneijder, Van Persie e Robben.

Havia um sonho a ser realizado. Fui repórter da CBN na Copa América de 1997. Pude registrar no gramado, o desabafo de Zagallo, Roberto Carlos me abraçou chorando ao vivo na rádio, graças ao celular. Mas faltava acompanhar uma Copa do Mundo de perto, em campo. Ela veio. Eu estava na coordenação da equipe da RBS TV para a Globo em Porto Alegre. Mas o destino deu uma curva. Seis meses antes, uma mudança de diretoria da empresa alterou todos os planos. Fui deslocado para a cobertura de retaguarda da TVCom, onde acabei me divertindo muito colocando no ar o programa Conexão à noite. Aquilo me permitiu voltar a ser torcedor. Comprei ingressos e pude acompanhar Holanda x Austrália, show do Messi contra a Nigéria, França x Honduras. Quando eu vi a Holanda em campo no primeiro jogo, não contive o choro. Era uma mistura de tudo que queria ter vivido de uma forma diferente, mas ainda assim estava valendo a pena.

O 7 a 1 sofrido pelo Brasil não foi dolorido porque ali estava uma seleção espetacular dando um show de futebol. Aquela altura, eu estava de novo muito mais dedicado em admirar o futebol independente das minhas paixões. Ao mesmo tempo, tudo ficou mais claro para mim de que o esporte imita a vida e nem sempre vamos vencer. Inclusive, sempre perdemos mais do que vencemos. Comecei a virar outra chave. Depois de muitos anos nos bastidores como chefe de equipe, decidi voltar ao microfone e amadurecer a ideia de ser comentarista de futebol. Tentei fazer isso no Octo, participava do Sala de Domingo da Gaúcha, tinha um blog no Ge.com. O Octo quebrou e todos fomos demitidos.

Fui para a Band, comentei no rádio, apresentei os Donos da Bola, mas antes havia vestido pela última vez a camisa do gestor. A Copa de 2018 foi vivida num período turbulento de muita gente no mercado de trabalho. Comigo não foi diferente, ainda mais demitindo colegas.

Mesmo assim, fiquei impressionado com a Bélgica de Hazard, Lukaku e De Bruyne, que eliminou o Brasil, e a França de Mbappé, a campeã. O mais encantador naquele período foi comentar para o Bandsports em entradas de Porto Alegre. Um dia, estava descendo para o estúdio, São Paulo me esperava para entrar no ar. De novo, uma reviravolta de direção. Me chamaram numa sala, assinei um papel e não voltei mais. Era o meu 7 a 1, ainda mais depois que surgiu a pandemia. Criei meus próprios canais, este Blog, um podcast e me preparei para mais uma Copa.



Neste domingo, às 7h, estava no ar como comentarista de futebol participando do ESPN F360 especial de Copa com os colegas William Tavares, Abel Neto, Celso Unzelte e Fernando Campos e a equipe ao vivo do Catar, Buenos Aires e Paris. Estou no ar, semanalmente, há quase dois anos com tantos outros profissionais do Grupo Disney. Remoto, de novo, vivendo em Florianópolis, mas sempre conectado com Porto Alegre e os clubes gaúchos, tive um ligeiro flashback de todas as copas que vivi. O improvável aconteceu. Mais uma vez virei torcedor, desta vez para a Argentina por causa do Messi. Não pode o jogador do século não ser o campeão, mas havia um aperto no peito por Mbappé, afinal este cara também merece. Mas Messi - cheguei a escrever errado no twitter de propósito - MEreSSI mais.

Eu passei a torcer pelo show e é assim quando acompanho e comento jogos do Campeonato Francês, Italiano, Português, Holandês, Argentino, MLS e futebol feminino na ESPN. Neste domingo, voltei a me emocionar ao ver em campo a maior final de todos os tempos com a consagração do maior jogador deste século: Lionel Messi, campeão pela Argentina no Catar, que agora passou o bastão por aquele que deve dominar o futebol nos próximos anos: Kylian Mbappé

Messi já estava na prateleira de Pelé, Garrincha e Maradona. Faltava um título. Não falta mais. E como foi difícil. O jogo reuniu duas equipes muito parelhas com dois jogadores espetaculares frente a frente e que jogam no mesmo time, o Paris Saint Germain. Messi e Mbappe. A Argentina é melhor no jogo com a estratégia do jovem técnico Lionel Scaloni de escalar Di Maria e apostar num time na formação 4-3-3. O mesmo técnico que remontou o time nesta copa a partir das entradas de Enzo Fernandes no meio e Julián Álvarez no ataque.

O duelo final foi espetacular. Do jeito que foi ninguém imaginou. A Argentina começou melhor com Di María aberto pela esquerda onde na França brilha Mbappé. Parecia tranquilo, um gol de Messi de pênalti e outro de Di Maria numa aula de contra-ataque. Só que do outro lado tinha um técnico que também sabe mexer e tem coragem de tirar jogadores como Giroud, Dembelé e Griezmann, este até então o terceiro melhor do mundial. Primeiro ele corrige o corredor direito com Muani e reforça o ataque com Thuran. A Argentina perde Di María, cansado. Acunha entra e o time não é o mesmo.

No segundo tempo, a França surgiu ainda mais forte nos 20 minutos finais com Coman e Camavinga nas vagas de Theo Hernandez e Griezmann. Curioso é que os negros franceses fizeram a diferença com uma qualidade incrível. E até o final, foram maioria com o goleiro Lloris sendo o único branco. Pressionada, a Argentina comete um pênalti com Otamendi batido por Muani. Mbappé desconta e logo em seguida num foguete ele deixa tudo igual. O jogo ainda tem lances espetaculares de cada lado até a prorrogação.

Scaloni sentiu que o time estava cansado e teve que abrir mão de De Paul, que estava jogando demais, o grande garoto Julián Alvarez, e Tagliafico. Já tinha colocado Montiel no lugar de Molina. Passou a pensar nos pênaltis também colocando Paredes, Dybala, Lautaro, mas também tentando vencer ou se segurar ao máximo e, por isso, Pezzella. Na França, também na zaga, Konatê entrou no lugar de Varane. O jogo era aberto. Franco. Messi marca um gol de pé direito, quando faltavam 12 minutos para o fim. Era a Glória. Só que não. Havia de novo Mbappé de pênalti, aos dois minutos para o fim. A decisão por pênaltis parecia inevitável. Pelo whatsapp em grupos de amigos e de colegas jornalistas, era só vibração. Que jogo é esse?

Nos pênaltis, Mbappé começa marcando. Eu confesso que pensei que Messi iria sentir a pressão e errar. Mbappé tem outras Copas pela frente. Messi não. Aquela bola pesava uma tonelada. Bateu seco, colocado e meu sentimento virou. A Argentina vai ganhar. E ganhou com um defesa de Martinez, o erro de Tchouameni, até o gol do título de Montiel. Todos os jogadores da Argentina, agora tricampeã mundial, vieram do banco para acertar as penalidades, exceto Messi. Algo que só valoriza o trabalho de Scaloni. Viva Messi, gracias hermanos, viva o futebol. Merci, Mbappé, você foi espetacular. Só um pode ganhar. Messi foi o craque desta Copa e você o artilheiro e poderá ser o melhor das próximas. Vem aí Canadá, México e Estados Unidos, em 2026. Estarei lá. Afinal, o sonho continua.

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