O exemplo da Bundesliga para o futuro do futebol brasileiro pós-pandemia
A Alemanha prepara a volta do futebol em maio depois de dois meses de paralisação da maioria das grandes competições do mundo inteiro em função da pandemia do Coronavírus. O exemplo que vem da Alemanha vai seguir como guia para as demais ligas e disputas em outras regiões do esporte mais popular do planeta bola. Mas é preciso também se espelhar no modelo que os alemães implantaram na competição nacional com uma liga com cifras milionárias e estádios lotados que fortalece os clubes e a seleção tetracampeã do mundo.
Claro, neste primeiro momento, o futebol alemão espera iniciar no dia 9 de maio com portões fechados e uma série de protocolos de restrição e de higiene ainda sob a ameaça de um adversário comum a todas as 18 equipes da disputa: o novo coronavírus. Uma reunião na próxima quinta-feira, pode definir a data que se não em duas semanas, pelo menos deve ser antes de junho.
O futebol renasce na Europa onde surgiu como esporte na Inglaterra que ainda não tem uma previsão de retorno, pois enfrenta uma situação de saúde mais crítica que na Alemanha. As duas ligas são as mais ricas da Europa. A Bundesliga rendeu US$ 1,28 bilhão na última temporada com contrato de transmissão de TV, o equivalente a mais de R$ 6 bilhões.
No Brasil, pais do Penta, o futebol nacional de clubes é bem diferente da maioria das Ligas Europeias. Os R$ 2 bilhões da Séria A, são negociados entre os clubes e as emissoras de TV. Mas quem organiza a competição nacional e tem gerência sobre as principais decisões é a CBF. A Confederação Brasileira de Futebol faturou quase R$ 1 bilhão em 2019, sendo a maior parte da receita da Seleção Brasileira e R$ 500 milhões destinados a maioria em investimentos nas diversas seleções masculinas e femininas. Então, não tem mais porque seguir administrando as principais competições nacionais, podendo delegar esta administração para uma Liga independente.
Na Europa, as federações nacionais que equivalem a CBF são responsáveis pelas seleções e tem participação menor nas competições nacionais delegando as competições para as Ligas. Fortalecem os interesses da Seleção e dos clubes em geral.
A Globo investiu cerca de R$ 1,5 bilhão e outros R$ 500 mil são a parte da Turner, antigo Canal Esporte Interativo e hoje TNT que decidiu romper agora em abril com os clubes brasileiros.
O Internacional de Porto Alegre terá um impacto de R$ 29 milhões a menos na receita neste ano de crise do novo coronavírus. Uma liga forte poderia impedir que oito clubes (o Inter e mais Athletico Paranaense, Bahia, Ceará, Coritiba, Fortaleza, Palmeiras e Santos) fizessem um acordo paralelo às negociações com a Globo. A Liga faria a negociação num pacote único e depois dividiria os milhões para os clubes.
Na Bundesliga, o líder Bayern de Munique busca o seu 30º título contando as conquistas nacionais pré-Bundesliga. É disparado o maior campeão. O futebol recomeça na Alemanha no mesmo período em que os clubes do Brasil pretendem iniciar os primeiros treinos. O Grêmio quer voltar agora no dia 2 de maio.
A Alemanha é rica economicamente e também no futebol. Possui um público médio de quase 40 mil pessoas, pelo menos duas vezes o público dos jogos no Brasil. A média de público do campeonato Brasileiro foi de 21 mil torcedores em 2019, só não superou a media de quase 23 mil em 1983 quando o Flamengo também foi campeão.
A medida mais exemplar dos alemães é a divisão equilibrada dos valores da TV para as duas divisões principais do futebol nacional, sendo a terceira a única organizada pela Federação do país, a CBF deles. Os valores não seguem um critério de tradição e número de torcedores como no Brasil. É meritocracia. E ainda assim, numa média de desempenho das últimas 5 temporadas. Ou seja: É preciso estar sempre em alta para ganhar mais e mesmo que caia um ano, pode recuperar no ano seguinte e seguir numa boa média de fonte de receita.
Clubes fora do eixo Rio e São Paulo como a dupla Gre-Nal, os mineiros e o exemplo do Athletico Paranaense dos últimos anos poderiam ter se valido de muitas conquitas nacionais e uma média de boas campanhas para estar a frente de resultados piores de equipes como o Flamengo e Corinthians que recebem R$ 170 milhões da TV por terem maior torcida e um maior público consumidor. Na Alemanha o Bayern de Munique e o Borussia Dortmund recebem mais pelos resultados melhores e por terem grandes campanhas de marketing com seus públicos, não porque só porque são maiores. Os detalhes estão numa publicação do site Trivela.
Se compararmos com os clubes menores, a diferença só mantém ainda mais o desequilíbrio técnicos, a distância econômica entre os clubes no Brasil. Foi o que se viu no ano passado quando o Flamengo parecia um estranho no ninho brasileiro. O ninho do Urubu era a galinha dos ovos de ouro do futebol brasileiro com craques milionários e superioridade técnica emblemática. Mesmo assim, o modesto Atlético Paranaense não ficou mais rico que os maiores clubes brasileiros, mas abocanhou a Copa do Brasil. Ainda bem que neste caso, a Copa do Brasil tem uma ótima premiação ao Campeão, de R$ 54 milhões. Mas não é justo.
O renascimento do futebol mais pobre e sem público na Alemanha, em maio, e depois, no Brasil, provavelmente em junho, fará com que seja necessária cada vez mais uma união dos clubes brasileiros. Um dependerá do outro. Senão, o antigo Clube dos 13 que hoje tem uns 20 clubes grandes do futebol brasileiro poderá ate enterrar tradicionais camisas do nosso futebol. O Cruzeiro é a bola da vez. Além da própria crise, da Segunda Divisão, terá que se reerguer em meio a pandemia. Quem estará disposto a pagar pela incompetência dos dirigentes da Toca da Raposa? Um novo tempo do futebol exigirá um novo modelo do futebol no Brasil.
Quem viver, verá. Espero que não haja de novo um 7 a 1. Saúde a todos. E se sair, use máscara. #)
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