Cada vez mais, como em toda e qualquer atividade, precisamos nos multiplicar, exercer múltiplas tarefas, ou pelo menos ter conhecimento em 360 graus e não apenas sermos especialistas em uma só área. Não podemos perder o foco, afinal quem diz que faz tudo bem não faz nada bem feito. No jornalismo, não é diferente e até é mais evidente esta transformação. Tudo graças a exigência do mercado, do público consumidor e produtor de conteúdo e das ferramentas tecnológicas capazes de simplificar o nosso trabalho.
Hoje, o repórter precisa ser multimídia e em breve talvez todos repórteres sejam e ainda tenham múltiplas funções. É o caminho natural da inovação, da agilidade da informação e da praticidade da Era Digital. O talento individual permanece valorizado. É como se não bastasse ao craque do time de futebol marcar gols, mas defender, armar jogadas, dar passes precisos. Tudo sem abrir mão da sua habilidade única. E mais: além do papel de jogador, da técnica em campo, há exigência para se ter espírito de equipe, liderança em campo e fora dele. Ser até mesmo um técnico do time e muitas vezes um dirigente, um gestor nem que seja de um processo.
Em 2001, eu tive a primeira experiência multimídia na cobertura do Circuito Mundial de Tênis para acompanhar o tenista Gustavo Kuerten pela RBS de Santa Catarina, gerando conteúdo de texto, foto, vídeo para rádio, TV, Web, Jornal. Além da RBS, produzi material para a RBS do Rio Grande do Sul, TV Globo e Sportv. Naquela época, ser repórter multimídia era basicamente ter uma mídia principal e gerar conteúdo para outras mídias.
Atualmente, é quase a mesma coisa. A diferença é que agora existem contratos de trabalho do profissional multimídia. Tanto no dia-a-dia como em coberturas especiais, quem faz foto também faz vídeo, quem escreve também fala e assim por diante.
A maior novidade é a força das Redes Sociais e da interatividade. Porque o público também começa a ser multimídia e se manifesta em texto, foto, voz e vídeo. Muitas vezes sem apurar os fatos, o que é fundamental para comprovação da veracidade dos mesmos. Mas, por exemplo, um cidadão comum faz um registro em vídeo, de uma tragédia - um desabamento de um prédio e posta a história. É suficiente para virar notícia e ter seus desdobramentos. É o que chamamos de suíte, com novos fatos, novas versões e consequências.
Há 30 anos, recebíamos ligações telefônicas e cartas – sou do tempo da cartinha com elogio, crítica e sugestão dos ouvintes. Hoje, a crítica é direta via email, pelo Whatsapp. Ou então a pessoa envia para um jornalista ou para um canal de TV pela interatividade e aquilo é utilizado para ilustrar a notícia. Antes praticamente só falávamos, hoje temos que ouvir e cada vez mais sermos transparentes. Ótimo. A verdade é a base do jornalismo.
Os jornalistas publicam ou exibem suas reportagens como sempre fizeram, mas também multiplicam os canais quando compartilham o que produzem. Além de retratar os fatos, trazem bastidores e até mesmo uma visão pessoal no Facebook, no Twitter, no Instagram, no Youtube. Também crescem paralelamente os canais independentes de jornalistas e artistas. Os youtubers e os influenciadores digitais estão aí para comprovar a sua força na publicidade e surgem novos canais de comunicação alternativos.
Assim como o profissional de mídia se multiplica, as plataformas também: em tablets, smartphones, TV, rádio, web, jornal, revista. A informação está em qualquer lugar, a qualquer hora. E o que mais chama atenção é a multiplicação das telas pelos smartphones. A tendência da multiplicação das mídias é irreversível. O que não muda no jornalismo é a importância das fontes, da responsabilidade das informações. O combate às notícias falsas são permanentes - as chamadas "Fake News" - que propagam mentiras, acusações e podem causar prejuízos e muitas vezes têm interesse político. As grandes empresas de comunicação têm seus canais de checagem de informações e há sites como o Boatos.org onde é possível encontrar notícias falsas e as versões verdadeiras.
Cresce a necessidade do jornalista de prestar um serviço de extrema qualidade. Cada vez é mais valorizada a formação do profissional de mídia, embora haja um aumento do conteúdo divertido, do entretenimento, geralmente mais genérico e muitas vezes fútil. Mas com equilíbrio é possível entreter sem deixar de trazer informações importantes que sejam construtivas para o público.
Hoje, exerço mais de um papel no meu trabalho na TV Bandeirantes de Porto Alegre. E já me dividi em líder e produtor de conteúdo. Sou editor-chefe, mas ainda sou comentarista, apresentador e nunca deixei de ser repórter, nem que seja na apuração de fatos, na busca de pautas. A nova geração começa a vir com uma formação totalmente digital, fazendo selfies, vídeos, produzindo conteúdo em smartphones. E já não há mais uma reação sindical da categoria dos jornalistas em relação aos profissionais multimídia, nem uma disputa entre jornalistas fotógrafos e jornalistas da escrita, por exemplo.
Lembro de um debate que travei com o excelente fotógrafo Antonio Carlos Mafalda (procurem no Google), baseado num artigo escrito por ele contra a cobertura multimídia do Guga por que eu estava produzindo as fotos. Eu não mudei de opinião na réplica que escrevi na época. A única autocrítica que faço é ter entrado numa discussão por que me senti ofendido pelos próprios jornalistas, colegas de profissão, que também podiam ter me ouvido antes de escrever aquilo.
Os avanços da era digital com a informação transitando cada vez com maior qualidade estética e em alta velocidade estão transformando as relações pessoais, comerciais e multiplicando as possibilidades profissionais. O termo multimídia é presente porque todas as mídias estão na Web e em diversas plataformas. As pessoas de um modo geral são multimídia. Pena que os livros – os textos – sejam o menos valorizados pela maioria no Brasil. É onde há profundidade na descrição das histórias.
Hoje, a expressão mais adequada que vale para qualquer atividade é “multiplicação”. O termo “múltiplo” é atual. Há uma série de pessoas que se subdividem em diversas atividades distintas, especialistas em áreas quase opostas. E vem aí uma robotização das notícias de forma oficial. Resumos de notícias automáticas e seleção de assuntos por algoritmos. A própria Inteligência Artificial vai entrar no cotidiano do jornalismo. No ano passado, a agência de fotos Getty Images lançou uma ferramenta de escolha de imagens por IA a partir do texto escrito. Conforme o assunto é redigido, as sugestões de fotos sao lançada, agilizando a edição de fotos.
As novas ferramentas digitais e a mistura de funções vão gerar novas profissões, atividades e infinitas possibilidades de negócio e provavelmente novos conflitos, discussões e até mesmo mais erros que acertos. É a modernidade líquida indicada pelo sociólogo polonês Zygmund Bauman, “porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser sólido”. Concordo. Mas, humildemente, entendo que é uma fase de transição, de adaptação ao mundo digital como foi a virada da Revolução Industrial, numa escala bem maior.
Hoje, sou múltiplo e também empresário até mesmo aberto para outras áreas. Sempre serei jornalista por gerar conteúdo para as pessoas em qualquer mídia, em qualquer plataforma. Um especialista em comunicação disposto a colaborar com a melhor performance de empresas, pessoas e marcas. Tenho prazer e sinto a necessidade de ser empreendedor diante dos desafios da Era Digital. Meu site é um passo neste sentido. Que a nossa história não seja tão líquida e escorra feito água, nem tão sólida e fria quanto o gelo. É preciso encontrar um novo caminho que só o tempo irá nos dizer e com certeza um jornalista irá nos mostrar.
Comments